Esta reportagem é baseada na observação participante (principalmente na Rocinha), entrevistas gravadas e autorizadas, revisões da literatura, etc … não divulgamos nomes ou outras detalhes comprometedoras.
Bem, é oficial, o teleférico em breve está chegando a Rocinha, ou pelo menos as obras vão começar em breve. Na verdade, tem sido oficial já há algum tempo, mas o projeto recentemente tem ido ao público e em breve será autorizada e assinada por Dilma Rousseff, presidenta do Brasil. O teleférico faz parte do programa PAC 2 na Rocinha. Mas antes de falar de PAC 2 será importante relembrar que o muito falado PAC 1 na Rocinha nunca foi concluído. Entre 65% e 70% da obra foi concluída, deixando mais ou menos 35% para ainda terminar. Ainda assim o poder público conseguiu gastar 35% mais de seu orçamento inicial. É Claro que PAC 1 foi complicado pela presença dos traficantes fortemente armados, que todo mundo sabe faziam parte, não a única parte, mas uma parte importante, da rede das pessoas que roubaram e misapropriaram o dinheiro público do PAC 1. O novo campo de futebol com grama sintética e as instalações esportivas construídas ao seu redor no sub-bairro da Vila Verde para os traficantes jogar é apenas um exemplo (Veja a entrevista da Ruth de Aquino com Nem da Rocinha, na Revista Época onde ele o menciona). Lá as instalações foram construídas com recursos do PAC 1, mas não tinha nada a ver com o plano original. Pelo menos hoje o campo está sendo utilizado por jovens da comunidade para programas esportivos. Além disso, um olhar cuidadoso em torno da comunidade revelará uma série de casas e edifícios, alguns que pertencem ou pertenceram aos traficantes, outros que pertencem a pessoas ou associações na rede de corrupção, que foram construídas ou aumentada com recursos e dinheiro de PAC 1. Um burocrata público de nivel superior que foi responsável pela PAC 1 na Rocinha, assim como um membro superior no hierarquia do aparato de segurança pública do Estado do Rio de Janeiro sugeriu que o PAC 1 foi levado às pressas por motivos políticos (antes das eleições para conseguir as pessoas certas eleito) e que seria ter sido muito mais bem sucedidos e menos custoso (Por causa de todo o dinheiro que os traficantes de drogas e seus associados roubaram) se a UPP foi estabelecido antes das obras começaram. Sem duvida, os traficantes não são os únicos que participaram de mau uso de recursos públicos durante o PAC 1. Certamente há pessoas/empresas que não moram na Rocinha que lucraram, como acontece com a maioria dos grandes projetos de infra-estrutura, dinheiro sempre desaparece. Porém, é mais fácil de ver que o dinheiro roubado por alguns moradores /associação dentro da Rocinha, porque a maioria desse dineiro desviado acabou sendo re-investido de volta à comunidade, só que para fins privadas e não para o público.
Então, agora PAC 2 vai rolar, vai sair do papel, dizem as autoridades pelos menos. E vai custar 1,6 bilhões de reais. Pelo que entendemos do projeto, e PAC 2 em geral, atraves de pesquisa e entevistas, a Rocinha vai ser transformada, bom, se o projeto realmente ocorre de acordo com os planos. É uma grande iniciativa de desenvolvimento comunitário que pretende modificar drasticamente a vida cotidiana na Rocinha. Qualquer morador da Rocinha sabe que certos problemas precisam ser drasticamente modificados. Número um SANEAMENTO. A Rocinha tem approximadamente de 28 valas abertas de esgoto, e em certos pontos grandes cachoeiras de esgoto. O problema com saneamento na Rocinha é uma vergonha, é uma desgraça absoluta em 2013 na cidade que está prestes a sediar uma série de mega-eventos internacionais, e mesmo se não houvesse eventos planejado ainda seria uma vergonha, porque não há razão para tal situação precária de saneamento na Rocinha, não com todo o dinheiro que está sendo investido na comunidade nos últimos anos. Muitos moradores ativos continuam, pasmados e frustrados sobre o assunto de saneamento. Claro que a topografia da Rocinha e do fato de que é a favela mais densa do Brasil, e provavelmente a mais populosa contribuem para esse problema, mas o principal problema continua sendo falto de recursos e investimentos no saneamento básico da Rocinha. Os problemas de esgoto e saneamento estão além assustadoras. É por isso que muitos moradores ativos são céticos sobre o teleférico. Se os problemas de saneamento podem ser abordados, e outros áreas como a saúde e educação também, então moradores não estariam tão insatisfeitos com a ideai do teleférico, mas o teleférico é extremamente caro para construir e manter, e muitos moradores se perguntam se é mais para os turistas que vêm a Rocinha de cima do que para os moradores que têm que sentir o cheiro do esgoto em baixo. Abaixo está o plano para teleférico da Rocinha, que foi lançado recentemente.
Outro burocrata público de alto nível admitiu para Mundo Real, numa entrevista gravada, o que a maioria dos ativistas e moradores curiosos já sabiam, que o teleférico foi um projeto 100% de cima pra baixo. A participação dos moradores foi ZERO. O poder público nos disse que foi copiado de Medellín, em Colombia, um fato que muita gente já sabe, e o governo do estado colocou o primeiro, como um experimento urbano, no Complexo do Alemão, na Zona Norte. O governo do estado o considerou um grande sucesso e logo depois planejaram outro teleférico para Rocinha. Houve, e ainda há, muita resistência lá no Complexo do Alemão em relação ao teleférico. A mídia sempre o elogia mas muitos moradores eram e continuam sendo, céticos. No final de 2012 alguns membros do Fórum Cultural da Rocinha, um grupo que trabalha em parceria com o Mundo Real, Rocinha sem Fronteiras e o Museu Sankofa da Rocinha. Os membros andaram por todo o sistema de teleférico no Complexo do Alemão e não foram impressionado. Eles também entrevistaram e conversaram com dezenas de moradores de lá, ninguém parecia ter muitos elogios para o teleférico, a principal razão sendo que, sim, é legal, mas há muitas questões prementes nas favelas, por que construir um carrossel absurdamente caro no céu para os visitantes? Bem, um professor da PUC-Rio, que também não vamos citar porque esta questão é bastante politizada, recentamente argumentou que, ao contrário do programa Favela-Bairro, que fez um monte de pequenas mas importantes melhorias nas encostas e ruelas de dezenas de favelas (principalmente em comunidades pequenas ) PAC parece visar projetos de grande escala que podem ser vistos de cima e além das favelas. Parece realmente ser orientado para projetos altamente visível e ostensivos que parecem ser anunciado e divulgado estrategicamente em torno de certas eleições. Um exemplo sendo os 16 milhões de reais gastos para demolir a antiga passarela e construir outra que liga a Rocinha ao Complexo Esportivo (também do PAC 1), localizado em São Conrado.
Para encerrar este artigo basta lembrar que sim, os moradores da Rocinha querem PAC 1 e PAC 2 e até mesmo a UPP. Mas os moradores também querem poder participar muito mais nos processos de desenvolvimento da sua comunidade. Isto, junto com a corrupção, parece ser um dos problemas mais graves com esses programas/projetos de desenvolvimento em grande escala. A falta de participação é muito mais do que uma questão políticamente correta, é uma questão de uso adequado dos recursos públicos, e garantindo que são gastos são feitos nas questões mais pertinentes para o saudável desenvolvimento da comunidade, o que apenas os moradores podem realmente entender. Mais em breve.
O Fórum Cultural da Rocinha vai realizar uma reunião pública sobre este assunto no sábado, dia 4 de maio de 2013 às 17:00 hrs no C4/Biblioteca Parque da Rocinha, que irá abordar PAC 2 e as mudanças que trará para a Rocinha.